Rio de Janeiro

SÃO JOÃO

Saiba mais sobre a Feira de São Cristovão: principal reduto da cultura nordestina no Rio

História do local se relaciona com a movimentação dos retirantes de diversos locais do nordeste chegavam na cidade

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Local é é uma das principais atrações turísticas da cidade do Rio, mas sua popularidade vai muito além disso. - Reprodução / Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas

O Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, conhecido como Feira de São Cristovão é uma das principais atrações turísticas e redutos da cultura nordestina da cidade do Rio. Sua história se relaciona com a movimentação dos retirantes de diversos locais do nordeste chegavam em caminhões no Campo de São Cristovão para trabalhar na construção civil, por volta do ano d 1945. O encontro era motivo de festa com músicas e comidas típicas.

Durante 58 anos, a feira permaneceu ao redor do Campo de São Cristovão e, em 2003, foi transferida para o Pavilhão após a reforma do local, quando passou a se chamar Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas. O poeta e músico, Marcus Lucenna, conhecido como o “Cantador dos Quatro Cantos” ocupou durante seis anos o cargo de gestor da feira e conta que nos anos 1980, bem antes de assumir a função, lutou para impedir que ela fosse retirada do local por conta da especulação imobiliária.

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“A migração nordestina para o Rio de Janeiro trouxe essa contribuição da geração antiga, da intermediária e da que está chegando com a formação do povo carioca, isso é muito importante, quando a gente pega o samba, que é essência da cultura carioca, os grandes enredos sempre têm nordeste”, diz.

O local que conta com personagens e símbolos do folclore e cultura nordestina, como a estátua de Padre Cícero, Lampião e Maria Bonita e do sanfoneiro Luiz Gonzaga, neste mês, tem toda a programação voltada para o dia de São João.

Para Marcus, as duas maiores festas brasileiras são o Carnaval e o São João, e ambas “têm muito espaço no estado” o que mostra “que a cultura nordestina no Rio é forte, só falta políticas públicas para produzir mais ações”.

“Quando eu vim do Norte para o Rio eu sonhava em conhecer esse lugar que meu pai falava que tinha muito forró, cordel, repentistas. E quando eu cheguei pela primeira vez na feira eu encontrei comigo mesmo no Rio de Janeiro”, afirma.

A historiadora, Sylvia Nemmer, pesquisa literatura de cordel e explica que a Feira de São Cristovão sempre foi um local em que os cordelistas se reuniam e mostravam o seu trabalho, mas que atualmente, com o avanço da tecnologia, os novos profissionais preferem usar as redes sociais. “Até 2005, 2006 o cordel no Rio de Janeiro era basicamente um meio de comunicação e informação da população nordestina sediada na cidade”, conta.

Apesar da mudança, Nemmer diz que “os cordelistas eram a memória da migração nordestina na cidade do Rio de Janeiro através dessa participação ativa na Feira de São Cristovão”, finaliza.

De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2021, cerca de 1,5 milhão de nordestinos residiam no estado.

Risco de privatização

Em abril deste ano, o prefeito Eduardo Paes (PSD) lançou um edital de licitação da concessão do Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas. O vencedor teria que investir R$ 97 milhões para renovar toda a estrutura do imóvel e seu entorno, incluindo estacionamento e praça. Porém, após protestos de comerciantes contra a decisão da prefeitura, o edital foi suspenso.

Durante as manifestações, os feirantes alegaram não terem sido informados pela prefeitura para conversar sobre a concessão. Além disso, os trabalhadores temiam a descaracterização do local, ficar sem trabalho durante as obras e ter que pagar aluguel.

Edição: Mariana Pitasse