Rio Grande do Sul

LUTA POR MORADIA

Ocupação Sepé Tiaraju em Porto Alegre completa um mês sob ameaça de despejo

Vigília no prédio que estava abandonado há 5 anos e hoje abriga 80 famílias demarca disposição de permanecer no local

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Famílias que viviam em condições precárias na periferia e indígenas que tem no local um abrigo de passagem ocupam imóvel próximo ao centro da cidade - Foto: Jorge Leão

A Ocupação Sepé Tuaraju completou um mês de luta por moradia digna com as 80 famílias sob ameaça de despejo. O prédio federal abandonado há cinco próximo ao centro de Porto Alegre foi revitalizado pelos novos moradores, famílias que viviam em condições precárias na periferia da cidade, e indígenas que tem no local um abrigo de passagem, organizados pelo Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Para demarcar esse processo de resistência, foi realizada uma vigília no saguão do local, na noite desta quarta-feira (28).

A liminar que pede a desocupação voluntária foi expedida na última sexta-feira (23) pelo juiz federal substituto Gabriel Menna Barreto, da 5ª Vara Federal de Porto Alegre, a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU).


Moradores críticam liminar de desocupação concedida à AGU pela Justiça / Foto: Jorge Leão

O prazo para que os moradores deixem o local é de cinco dias, conforme explica o coordenador estadual do MLB e da ocupação, André Ferraz. “Esse prazo está acabando, mas os moradores estão decididos a resistir e estão se organizando para permanecer no espaço”, afirma.

Ele defende que a construção da resistência é pela garantia de “continuar com esse direito à moradia que hoje os moradores estão desfrutando”. Pontua ainda que “a Constituição está sendo aplicada nesse imóvel que estava desocupado”, garantindo que cumpra sua função social.

Organização e revitalização

Moradora da ocupação e integrante do MLB, Tâmisa Fleck afirma que quando o grupo ocupou o prédio desabitado, havia muita coisa para arrumar. “A estrutura dele não tava boa, tava sem água, o elevador está sem funcionar, sem manutenção há cinco anos. A gente deu vida a esse prédio, a gente limpou todos os locais.”

Entre as manutenções realizadas pelos moradores da ocupação, ela conta que houve a evacuação de produtos químicos de andares superiores, para que as salas pudessem ser utilizadas com segurança. O prédio da União abrigava o Laboratório Nacional Agropecuário no Rio Grande do Sul (Lanagro RS), vinculado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).

“Construímos a nossa cozinha comunitária e escrevemos projetos também para apresentar essa cozinha e participar dessa mobilização da luta contra a fome”, complementa André Ferraz. Ainda segundo o coordenador, também foram apresentados projeto para entidades sindicais, a fim de financiar projetos de luta como a cozinha comunitária, a creche e a instituição de ensino do movimento, a Escola Eliana Silva, em São Paulo.


"Constituição está sendo aplicada nesse imóvel que estava desocupado", afirma coordenador da ocupação / Foto: Jorge Leão

Tâmisa Fleck pontua que a organização interna conta com escalas de limpeza, de alimentação e estrutura para arrumar tudo que tem que ser feito, como os banheiros, por exemplo. “Alguns banheiros estão em desuso porque a gente não está conseguindo arrumar a hidráulica, tudo isso é dinheiro.”

Ela conta que o maior suporte vem da Unidade Popular pelo Socialismo. Membros do partido se somam no trabalho e contribuem nas escalas. O movimento também tem ido em gabinetes de deputados estaduais.na busca de apoio.

“Chance de uma moradia”


Jair Borges Martins: "Todo ser humano tem que ter um espaço para a morar direito" / Foto: Jorge Leão

Vindo da Zona Norte de Porto Alegre, Jair Borges Martins é cadeirante e vivia de aluguel em condições precárias. Para ele, integrar-se á luta da Ocupação Sepé Tiaraju é representa a chance de uma moradia. “Eu morava na (Av.) Baltazar de Oliveira Garcia, pagando aluguel, e agora eu tô aqui, nesse movimento, tentando conseguir um espaço pra mim, uma moradia digna”, afirma.

“Eu acho que todo ser humano tem que ter um espaço para a morar direito, também ter direito a comer”, complementa o morador. Para ele, que disse sentir-se acolhido pelo MLB o movimento “acalenta as pessoas que mais precisam”.

* Colaborou Alexandre Garcia


Edição: Katia Marko