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Movimento Estudantil

Abertura do 59º Congresso da UNE lembra os 50 anos do desparecimento de Honestino Guimarães

Ato contou com a presença de Flávio Dino, Luis Barroso e Gleisi Hoffmann; presidente Lula participa nesta quinta (13)

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Abertura foi marcada com homenagem a ex-estudante da UnB, que desapareceu na Ditadura Militar - Foto: Camila Araújo

Teve início nesta quarta-feira (12/07) o 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Centro Comunitário Athos Bulcão da Universidade de Brasília. A cerimônia de abertura contou com uma homenagem a Honestino Guimarães, estudante de Geologia da Universidade de Brasília (UnB) que foi perseguido e morto pela ditadura militar quando era líder estudantil há 50 anos. 

O ato, sob o tema “Em defesa da democracia: enfrentando o autoritarismo e o discurso de ódio no Brasil", contou com a presença de familiares de Honestino. Seu sobrinho, Lucas Guimarães declarou que a homenagem feita ao tio é um sinal de que “a luta dele pela democracia venceu”. 

Bruna Brelaz, atual presidenta da UNE, destacou que a abertura do congresso “não poderia ter sido mais simbólica” com a homenagem ao líder estudantil, que foi presidente da UNE a partir de 1971, dois anos antes de seu desaparecimento. 

Nascido em Itaberaí, no Goiás, Honestino também foi presidente da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília, tendo sido preso quatro vezes em razão de sua militância. Na última vez, quando tinha 26 anos, nunca mais retornou. Seu atestado de óbito foi entregue à família apenas em 1996 e de forma incompleta, sem causa da morte – apenas em 2013, quando foi anistiado pelo Estado, o documento foi corrigido. Razão da morte: atos de violência sofridos quando estava sob custódia do Estado brasileiro.


Reitora da UnB, Márcia Abrahão Moura, segura cartaz em memória de Honestino Guimarães / Foto: Camila Araújo

Na cerimônia desta quarta, estiveram presentes  o ministro da Justiça Flávio Dino e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, além de outras figuras como deputado federal Orlando Silva (PCdoB), a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT), a reitora da UnB, Márcia Abrahão Moura, e o diretor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Celso Campilongo.

Considerado um dos maiores encontros estudantis e da juventude de todo o mundo, o Congresso da UNE, que vai até o dia 16 de julho, escolherá teses de Conjuntura, Educação e Movimento Estudantil que darão as diretrizes para a entidade nos próximos dois anos. Também serão votadas a próxima presidência e a nova diretoria.

Disputas

A eleição das teses acontece da seguinte maneira: os estudantes se organizam em movimentos para elaborar suas diretrizes e se unificam em uma ou mais chapas na hora de cada votação – que é realizada por contraste visual, por meio dos crachás de delegados ou delegadas levantados na plateia.

Já a eleição para a nova diretoria, que conta com 81 pessoas, é proporcional e realizada no último dia do encontro, com voto secreto em urna, mediante apresentação de credencial (crachá) de delegado ou delegada juntamente com um documento oficial com foto. 

Todo esse processo e a importância histórica da entidade fazem do Congresso da UNE um palco de disputas acirradas entre dezenas de correntes e grupos políticos do movimento estudantil. De forma resumida há dois grandes grupos: o majoritário, composto pelo PT, PSB, PDT, PCdoB, Levante e aliados; e a oposição de esquerda composta por grupos como Juntos, Correnteza, UJR, UJC, Faísca, UP e setores do PSOL

O tratamento concedido ao ministro Barroso, primeiro magistrado do STF a comparecer ao Congresso desde a redemocratização, demonstrou as diferentes leituras que os grupos fazem da realidade e da conjuntura do país. Enquanto o grupo majoritário o recebeu com aplausos, a oposição o vaiou.

“Eu venho do movimento estudantil. De modo que nada que está acontecendo aqui me é estranho. Já enfrentei a ditadura e já enfrentei o bolsonarismo. E mais que isso, foi eu que consegui o dinheiro da enfermagem porque não tinha dinheiro. Não tenho medo de vaia porque temos um país para construir”, disse o magistrado na ocasião.


Grupo ergueu faixa com dizeres contrários ao ministro do STF / Foto: Camila Araújo

Um grupo de estudantes do movimento Faísca, levantou uma grande faixa durante a recepção de Barroso com os dizeres: “Barroso inimigo da enfermagem e articulador do golpe de 2016”. Em setembro do ano anterior, o ministro suspendeu a lei que estabelece piso salarial nacional da enfermagem – ação que foi revogada por ele em maio deste ano.

Defesa da democracia

Em sua saudação, Flávio Dino disse que “todo mundo aqui é contra o fascismo, contra o golpismo e contra a extrema-direita. Todo mundo defende a educação pública gratuita de qualidade para todos no Brasil. Todos são contra a discriminação dos negros, das mulheres e da comunidade LGBT”.

Para ele, uma tarefa fundamental para resguardar a democracia é enfrentar o poder das empresas que “mandam na internet e veiculam extremismo”. 

A expectativa para o evento este ano é que mais de 10 mil estudantes de todo o país estejam presentes participando dos debates, dos grupos de discussão e atividades culturais que compõem a programação do encontro. A alimentação será por conta do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Lula no Conune

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é presença confirmada no Conune nesta quinta-feira (13), a partir das 18h. O evento será no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília (DF). No ato, os estudantes vão entregar uma carta com demandas para a educação ao Presidente Lula. Também está confirmada a presença do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, além dos ministros Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia).

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Edição: Flávia Quirino