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Organização popular para derrotar o bolsonarismo

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É tarefa essencial as dos Comitês Populares, enquanto uma continuidade de um trabalho que já vem sendo feito - Foto: Carolina Lima
Subestimar o bolsonarismo poderia ser um tiro no pé da esquerda no Brasil

A derrota de Bolsonaro nas urnas, em 2022, apesar de muito importante e significativa, não quer dizer que o bolsonarismo no Brasil tenha sido derrotado como um todo. A extrema direita nos últimos anos cresceu, não apenas à nível nacional, mas ao redor do mundo. A História de tempos em tempos prevê crises dentro do próprio sistema capitalista, e esse momento vivido vem como resposta a uma dessas crises. Então, o crescimento dessa direita fascista é um tipo de consequência, uma forma de procurar “salvar” o capitalismo, gerada pelo próprio sistema.

Subestimar o bolsonarismo poderia ser um tiro no pé da esquerda no Brasil, já que esses últimos anos foram capazes de produzir um tipo de pensamento que se tornou doutrina, e que carrega muito peso político, ideológico, e apoio em forma de financiamento. Tanto que, em busca desse eleitorado fiel à Bolsonaro, Zema, Governador de Minas Gerais pelo Partido Novo, fez falas que versam sobre a separação entre as regiões sul e sudeste das regiões norte e nordeste. Essas falas, que foram endossadas pelo governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB), além de reproduzir um pensamento comum da direita que vive naquela região, de que eles estariam social, econômica e culturalmente acima dos demais estados fora do eixo Sul-Sudeste, demonstra uma procura desses políticos por espaço dentre o legado bolsonarista.

E qual seria a maneira para, de fato, derrotar o bolsonarismo? Não há fórmulas prontas e certeiras, mas, a organização popular é o melhor caminho para atingir esse fim. Caminhar em conjunto com as ações do governo Lula, que tem um impacto positivo na vida da população, especialmente quando fazemos um distinto recorte de raça e classe, é uma questão necessária. Saber abordar esses ganhos e conseguir destacar todo esse impacto na vida da classe trabalhadora, por meio de uma comunicação e propagandas efetivas, é um outro ponto vital. Também saber cobrar do governo por políticas públicas e por abordagens que sejam, de fato, pensadas em torno da vida da população, e não daquele 1% - ou seja, dos ricos- , é uma outra chave essencial.

É fato que durante o processo eleitoral, a participação popular foi uma parte essencial de toda a disputa que ocorreu. Um exemplo disso está nos Comitês Populares de Lula, que, espalhados por todo o Brasil, e organizados por partidos, movimentos e demais formas de organizações populares, mostraram o quão bem o método pode caminhar. Em diferentes áreas das cidades, nos territórios, ou agindo de forma descentralizada, esses comitês cumpriram uma função importante: a de eleger Lula, e com ele uma bancada de esquerda.

Parlamentares eleitos como o de Rosa Amorim (PT) em Pernambuco, Missias no Ceará (PT) e Marina (PT) no Rio de Janeiro, pela militância do MST, Movimento Brasil Popular, Levante Popular da Juventude e demais movimentos populares, só foram possíveis por conta da grande atuação dessa militância nas ruas, dentro e fora dos territórios.

Passadas as eleições, então, novos desafios surgem, dentro do novo cenário que se mostra. É importante olhar para os ganhos que já foram logrados nesses sete meses de governo em 2023, mas dentro de uma perspectiva de que estamos passando também por um processo de reconstrução. Apesar de contar e também ser continuamente construído pelos movimentos e partidos populares, o tão almejado governo Lula não é um governo socialista, e precisou de muito diálogo com o chamado centrão e alas da direita para poder viabilizar o seu governo. Então, saber medir expectativas em torno da via institucional, sabendo das contradições existentes, aliado a entender a importância da organização popular, para, por vezes pressionar, e outras vezes para apoiar, é parte fundamental para se compreender os desafios atuais.

Após anos de desmonte de políticas públicas e da vida da classe trabalhadora, é difícil esperar tocar o céu dentro dessas circunstâncias. Ainda assim, devemos celebrar os ganhos: a baixa do dólar, e com ele o aumento do poder de compra, a baixa do preço da gasolina, a diminuição do desemprego, a volta do Bolsa Família, e muitos outros. Todos esses ganhos citados devem ser noticiados, e já que a mídia hegemônica tem tanta dificuldade em “dar o nome aos bois”, cabe aos meios de comunicação anti-hegemônicos e iniciativas populares, como os Comitês Populares de Luta.

Essa comunicação e ampliação do que vem sendo feito, de forma pedagógica, e como um mecanismo de disputa dentro da política - não apenas nos espaços formais -, construindo pontes para o futuro e construindo também uma base social fortalecida, e com formação política para melhor enxergar a realidade do país.

Embora se espere do governo iniciativas que fortaleçam esse trabalho, é tarefa essencial as dos Comitês Populares, enquanto uma continuidade de um trabalho que já vem sendo feito, seja na forma de cozinhas populares, espaços culturais, hortas urbanas, entre outros, a partir das lutas e visões populares e que busque a conscientização, de forma independente e autônoma.

Edição: Vanessa Gonzaga