Pernambuco

Denúncia

Centro religioso de Olinda, Ilê Axé Oxum Ipondá, luta contra desapropriação de moradores

O Ilê está localizado na região da cidade baixa de Olinda, por onde o Rio Fragoso flui

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O Ilê Axé Oxum Ipondá oferece oficinas de dança, aulas infantis e distribuição de refeições para a comunidade de Jardim Fragoso. - Ilê Axé Oxum Ipondá

Desde 2006, o Ilê Axé Oxum Ipondá, localizado em Jardim Fragoso, na cidade de Olinda, desenvolve ações que beneficiam os moradores da comunidade. Construído principalmente pela Ialorixá Inajá Soares, com o apoio dos membros do Ilê, o centro religioso se tornou referência no auxílio à população vulnerável. O Ilê Axé Oxum Ipondá e todo o bairro estão localizados na região da cidade baixa de Olinda, por onde o Rio Fragoso flui. Durante o período chuvoso, o rio transborda, resultando em inundações frequentes que afetam a área. 

Em 2012, como uma solução para os problemas causados pelas chuvas, a Companhia Estadual de Habitação e Obras (CEHAB), a Secretaria das Cidades e a Prefeitura de Olinda iniciaram um projeto de urbanização da Bacia do Fragoso. O projeto envolveu o alargamento e o revestimento do canal, visando reduzir os danos causados pela falta de infraestrutura. No entanto, essa obra tem gerado preocupações para a população local. Confira:

 

Segundo Inajá, a desapropriação de propriedades tem sido a sua principal preocupação. "No primeiro momento, eu não dormia, não comia. Fiquei muito desesperada sem saber o que fazer. A gente foi na prefeitura atrás de informações e disseram que não tinha nenhum projeto falando da desapropriação do local”, afirmou.

Desde a sua criação em 2016, o Ilê Axé Oxum Ipondá tem promovido ações benéficas para os moradores da região. Em todo mês de novembro, a ação "Saúde dos Terreiros", realizada em parceria com o poder público, oferece testes rápidos, atendimento médico, vacinação e avaliação nutricional para a população. Além disso, o centro religioso oferece oficinas de dança, aulas infantis e distribuição de refeições para cerca de 200 pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade na comunidade.

"O sentimento é de desprezo, desrespeito e dor. Porque eles estão sentadinhos, têm suas casinhas boas, têm tudo, enquanto a gente passa por todo um processo de construção de tudo e eles não estão nem aí. Não dão importância aos sentimentos. Porque tudo isso aqui existe sentimento, luta, trabalho" acrescentou Inajá Soares.

O projeto de urbanização da Bacia do Fragoso inclui a implantação de três conjuntos habitacionais, duas lagoas de retenção, mais de cinco mil metros de canal revestidos e um sistema viário com mais de 10 km de vias pavimentadas às margens do canal. Além disso, segundo a CEHAB, a obra prevê a desapropriação de 1.500 imóveis e a realocação de 700 famílias que residem em palafitas e casas ao longo do trecho a ser executado.

 


Obra da Bacia do Fragoso. Google Earth. / Reprodução TCE

"Não tem como a gente sair de um dia para o outro, porque são fundamentos que estão conosco. São sentimentos, é o que a gente cuida, a nossa espiritualidade, não tem como a gente tirar isso. São processos que têm que ser feitos para poder ser retirado e recolocado em outro lugar," explicou Henrique, integrante do Ilê.

A obra de alargamento do canal do Fragoso está programada para ser concluída em 2024. Até o momento do fechamento desta reportagem, a redação do Brasil de Fato não havia obtido respostas da Companhia Estadual de Habitação e Obras em relação ao caso.

 

Edição: Helena Dias