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Na China, Maduro se reúne com Dilma e pede apoio de Pequim para levar Venezuela ao Brics

Segundo Caracas, Maduro e Dilma discutiram papel do Banco do Brics na 'construção de um novo sistema econômico mundial'

Caracas (Venezuela) |
Presidente venezuelano se reuniu com Dilma Rousseff na sede do NDB, em Xangai - Prensa presidencial

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, seguiu em visita oficial à China durante este final de semana, em agenda que deve durar até esta quinta-feira (14). Neste domingo (10), o mandatário visitou a sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) e se reuniu com a presidenta da instituição, a brasileira Dilma Rousseff.

Pelas redes sociais, Maduro afirmou que a Venezuela quer ser um "sócio, um aliado e um amigo" do banco e que o país vê "com grande admiração o processo geopolítico do Brics, que é um poderoso motor de articulação do novo mundo".

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Em comunicado, a Presidência venezuelana afirmou que Maduro e Dilma "dialogaram sobre o impacto da entidade bancária na construção de um novo sistema econômico mundial, assim como o interesse de várias nações em formar parte da entidade financeira".

Antes da viagem, Maduro já havia manifestado interesse em levar a Venezuela ao Brics e ao NDB. Em maio, quando visitou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Brasília, o venezuelano disse que o país queria ser parte do bloco e, em agosto, enviou uma proposta formal de ingresso.

Na última cúpula do Brics, entretanto, os membros decidiram ampliar o grupo com a adesão de seis novos membros, mas a Venezuela não está entre eles.

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Em entrevista à agência chinesa Xinhua, publicada neste domingo, o mandatário voltou a manifestar interesse em entrar no Brics e disse que o assunto está na pauta de sua agenda de seis dias no país asiático.

"Seriam três linhas de trabalho: fortalecer a relação China-América Latina e o Caribe, fortalecer o grupo de defesa da Carta das Nações Unidas para uma refundação da ONU e a entrada da Venezuela no Brics para seguir fortalecendo o processo de nascimento de um mundo novo", disse.

A visita de Maduro à China e a reunião com Dilma Rousseff foi precedida pela ida da vice-presidenta venezuelana, Delcy Rodríguez, que também teve um encontro com a presidenta do NDB na última quarta-feira (6).

Segundo economistas venezuelanos consultados pelo Brasil de Fato, a visita das autoridades do país ao Banco do Brics poderia significar a busca de Caracas por novas fontes de financiamento e obtenção de divisas para escapar do bloqueio dos EUA.

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Alvo de mais de 900 sanções, a Venezuela passa por uma crise na indústria petroleira, a principal fonte de dólares do país, após ter suas exportações praticamente paralisadas por sanções impostas por Washington. A queda nos ingressos, a escassez de dólares e a impossibilidade de realizar pagamentos no sistema financeiro internacional gerou diversas turbulências econômicas no país.

A agenda de Maduro na China, que ocorre durante a cúpula do G20 em Nova Déhli, ainda deve incluir uma reunião com o presidente chinês, Xi Jinping, que cancelou sua participação no encontro na Índia.

Zonas econômicas especiais

Antes de viajar a Xangai para a reunião com Dilma no NDB, Maduro esteve na cidade de Shenzhen, considerada uma "zona econômica especial" na China por possuir legislações alternativas que visam incentivar a produção econômica. Polo tecnológico, a cidade abriga a sede da empresa Huawei e foi apelidada de "vale do silício" da China.

Ali, o presidente da Venezuela firmou um memorando com o Centro de Pesquisa de Zonas Econômicas Especiais da Universidade de Shenzhen para "cooperação, desenvolvimento e modernização".

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Em julho do ano passado, o Parlamento venezuelano aprovou um projeto para a criação de diversas Zonas Econômicas Especiais no país, alguma delas já sancionadas e inauguradas pelo Executivo. Segundo os autores do projeto, a ideia é criar espaços com incentivos fiscais para que investidores públicos e privados, nacionais e estrangeiros, desenvolvam projetos em distintas áreas da economia do país.

As ZEE's, como passaram a ser chamadas, são vistas pelo governo como uma possível solução para a crise econômica, pois podem atrair investimentos para setores não-petroleiros da economia e trazer mais divisas ao país. Críticos ao projeto, no entanto, apontam para os riscos de modificar legislações fiscais e acabar cedendo a soberania do país sobre seus recursos.

Edição: Thales Schmidt