Extrema direita

No Senado, opositora venezuelana convidada por Moro é aplaudida por bolsonaristas

Em sessão esvaziada, extrema direita brasileira e venezuelana se uniram para criticar governos e fazer campanha

Caracas (Venezuela) |
Maria Corina Machado participou de audiência hegemonizada pela extrema direita - Agência Senado

A opositora venezuelana e pré-candidata à Presidência da Venezuela Maria Corina Machado compareceu por videoconferência nesta terça-feira (12) a uma audiência no Senado brasileiro após ser convidada pelo senador Sergio Moro.

Em sessão esvaziada da Comissão de Segurança Pública, Machado recebeu elogios dos únicos cinco senadores presentes, todos ligados ao campo político "bolsonarista", que hegemonizaram a audiência com críticas aos governos do Brasil e da Venezuela.

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Estiveram presentes os senadores Hamilton Mourão (Republicanos), Esperidião Amin (PP), Jorge Seif (PL), Eduardo Girão (Novo) e Sergio Moro (União Brasil).

Os parlamentares aproveitaram a sessão para elogiar o trabalho da opositora venezuelana, que foi aplaudida depois de cada intervenção ao longo das duas horas de duração da audiência. Além disso, os senadores fizeram comparações entre situações política na Venezuela e no Brasil, insinuando que ambos os países assumem práticas parecidas e estariam se tornando "autoritários".

"Ela é uma sobrevivente. Gostaria de poder abraçá-la", disse Girão. Já Moro classificou Machado como "uma verdadeira heroína" e criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter recebido seu homólogo venezuelano, Nicolás Maduro, em Brasília no mês de maio.

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O ex-juiz ainda disse que proporia ao governo brasileiro e ao Senado a conformação de uma "comissão suprapartidária" de senadores para acompanhar as eleições no país vizinho.

Maria Corina, por sua vez, aproveitou o espaço para apresentar algumas propostas de campanha e criticar o governo Maduro. Ela é candidata nas eleições primárias da oposição que devem acontecer no dia 22 de outubro com o objetivo de escolher um candidato único para as presidenciais de 2024.

A opositora ainda pediu o apoio dos senadores presentes às primárias opositoras e disse que estaria disposta a recebê-los em Caracas para eventuais visitas oficiais. 

Quem é Maria Corina Machado?

Apesar de se apresentar como engenheira industrial e ativista pela "liberdade" na Venezuela, a trajetória política de Machado começa há 20 anos, quando ela integrou o governo golpista instaurado na Venezuela por 48 horas após a derrubada do ex-presidente Hugo Chávez em 2002. Na ocasião, a opositora assinou o chamado "decreto Carmona" que fechou o Congresso, destituiu a Suprema Corte e suspendeu garantias legais.

Ela ainda participou dos protestos de 2014 e 2017 contra Maduro, que ficaram conhecidos no país como "guarimbas" pelo alto nível de violência empregada pelos manifestantes. Um jovem de 22 anos chegou a ser esfaqueado e teve seu corpo incendiado durante um desses atos por ser reconhecido como chavista.

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Maria Corina também apoiou o "governo interino" de Juan Guaidó e defende até hoje as sanções impostas pelos EUA contra a economia venezuelana, que agravaram a crise no país.

Ultraliberal, ela defende a privatização de bens e empresas do Estado, inclusive a da estatal petroleira PDVSA, principal fonte de divisas para a Venezuela. Ela também é signatária da Carta de Madri, documento da extrema direita mundial que contou com o apoio de figuras como Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, e Javier Milei, candidato à Presidência argentina.

Apesar de aparecer como favorita em algumas pesquisas, a opositora não deve conseguir se inscrever legalmente como candidata presidencial, já que ela estaria inabilitada de ocupar cargos públicos por 15 anos, em um processo datado do ano de 2015. A decisão, divulgada pela Controladoria-Geral da República (CGR) em junho, elevou as tensões políticas no país que já vive um clima de campanha eleitoral. A justificativa apresentada pela CGR foi a de que haveria "inconsistência e ocultação" de ativos na declaração de bens que Machado apresentou no período em que foi deputada na Assembleia Nacional (2011-2014).

A opositora, no entanto, nega qualquer irregularidade e acusa o governo de “perseguição política” para evitar sua candidatura.

Edição: Thales Schmidt