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Perseguição de Assange revela os limites da "democracia" estadunidense

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Em campanha pela liberdade do filho, pai de Julian Assange veio ao Brasil divulgar o documentário Ithaka – A Luta de Assange, de Ben Lawrence - Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Assange fez um importante trabalho de denúncia de ações ilegítimas de um Estado contra o outro

Até onde o governo dos Estados Unidos vai para defender sua hegemonia? O imperialismo estadunidense, sabe-se, é cruel e se mantém de forma imposta ao redor do mundo. O caso do jornalista australiano Julian Assange e toda a perseguição política em torno da sua figura, que dura mais de uma década, é mais uma forma desse governo de procurar se preservar no poder, e tentar impedir que outros casos como o do Wikileaks aconteçam novamente. Sendo também mais uma forma deles serem assertivos ao imporem seu poder pelo medo.

A história do preso político Julian Assange é contada em um documentário chamado “Ithaka: A luta de Assange”, que teve sua estreia recentemente no Brasil, juntamente com a vinda do pai do jornalista, John Shipton, para divulgação e debate sobre o caso. John e Stella Assange, esposa de Julian, mantêm uma batalha sem igual em defesa da liberdade de jornalista, mas essa batalha, na qual se unem partidos, movimentos e lideranças do mundo inteiro, fala para além de sobre uma pessoa, fala sobre democracia, liberdade de imprensa e de expressão.

O WikiLeaks - onde o termo wiki significa ser um site voltado para compartilhamento de ideias e informações e leaks significa vazamentos -, nasceu em 2006, e tem Assange como um dos seus fundadores. Em 2010 foram expostos, por meio do site, vídeos e documentos que expõe casos de espionagem e tortura por parte do governo dos Estados Unidos, onde mostram, por exemplo, agentes estadunidenses atirando de um helicóptero, em civis, em Bagdá, no Iraque. Outros arquivos publicados falavam sobre a base estadunidense de Guantánamo, em Cuba, e casos de violações dos Direitos Humanos. Essas exposições demonstram a farsa que é a narrativa criada pelo Governo dos EUA em torno da “guerra ao terror”. E a subsequente perseguição política a Assange revela sobre os limites sobre a dita “democracia” tão fortemente proclamada por eles, e usada de argumento para invadir e subjugar outros países.

Julian, que passou cerca de sete anos em exílio na embaixada do Equador, no Reino Unido, agora se encontra na prisão de segurança máxima de Belmarsh, desde 2019, acusado de 18 crimes - sendo um deles o de espionagem, tornando-o o primeiro jornalista a ser acusado sob a Lei de Espionagem. Como é trazido pelo filme, foi durante sua passagem pela embaixada que ele conheceu sua atual esposa, Stella Assange, e foi lá que tiveram seus dois filhos, em um momento, como é dito pela própria Stella durante o filme, em que eles achavam que a liberdade estaria próxima, e por isso eles puderam pensar em formar uma família.

O documentário, que está em exibição agora, cumpre um papel de extrema importância em manter viva a campanha em favor da liberdade de Julian, e atualmente, em torno da pressão sob o governo Biden para que as acusações sejam retiradas, já que, a possível extradição de Assange para os Estados Unidos, onde pode ser condenado a mais de 150 anos de prisão, se configura como um grande perigo para a sua saúde física e mental, pela grande possibilidade de violação dos Direitos Humanos, uma vez que ele estiver sob os cuidados do sistema penitenciário estadunidense, além da possibilidade dele cometer suidicio.

Além de trazer o ponto de vista do pai, John Shipton, e da esposa, Stella, o filme conta, por meio de uma linha do tempo, toda a trajetória pela qual Julian passou e ainda passa, as dimensões políticas, familiares, sociais e afetivas. O discurso em torno da liberdade de Assange é necessário, e é fortemente encabeçado por movimentos, partidos e demais organizações populares no Brasil, por meio de uma campanha que é levada e articulada também junto com a ALBA Movimentos e a Assembleia Internacional dos Povos, ao redor do mundo.

Além das forças populares, o próprio presidente Lula, que também foi vítima de uma perseguição política similar a qual passa Julian - chamada de lawfare -, já falou em diferentes momentos sobre a perseguição ao jornalista e se posicionou contra - inclusive em eventos em outros países e com grande alcance. Como é o caso do tweet a seguir, publicado em 10 de junho de 2023: “Vejo com preocupação a possibilidade iminente de extradição do jornalista Julian Assange. Assange fez um importante trabalho de denúncia de ações ilegítimas de um Estado contra o outro. Sua prisão vai contra a defesa da democracia e da liberdade de imprensa. É importante que todos nos mobilizamos em sua defesa.”

A defesa feita por Lula é de extrema importância e tem um significativo peso político, dentro de uma reconfiguração global em que o Brasil tem retomado cada vez mais espaço e respeito, tanto com os países do sul global, quanto com os países do norte global. A perseguição política pela qual Lula passou, sob uma instrumentalização do sistema judiciário, diz muito sobre os perigos que uma narrativa pode assumir a um real projeto demócratico, e diferentes tipos de perseguição política sob falsos pretextos. Como é dito por Stella Assange durante o filme: a extradição é uma questão 99% política, e 1% da lei.

A história que a mídia hegemônica controlada pelo governo estadunidense tenta criar de que Julian Assange é de um espião e traidor da democracia e da grande pátria, pode ter seus seguidores, no entanto, pelas andanças feitas tanto por John, quanto por Stella, ao redor do mundo, e todo o apoio que eles têm recebido, vê-se a importância do papel do WikiLeaks e de modelos de mídia que se propõe a contar outra narrativa, trazendo para o centro do debate questões importantes, como: que tipo de democracia é a democracia dos EUA?

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga