Troca

EUA libertam Alex Saab, empresário aliado da Venezuela que estava preso desde 2020

Liberação foi negociada em troca de soltura de cidadãos estadunidenses; Maduro confirma troca, mas não divulga nomes

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Alex Saab foi recebido no Aeroporto de Caracas pela primeira-dama, Cilia Flores - Prensa presidencial

Os Estados Unidos libertaram nesta quarta-feira (20) o empresário colombiano Alex Saab, que trabalhou como aliado do governo da Venezuela e estava preso desde 2020 após ser acusado de lavagem de dinheiro pela Justiça estadunidense.

A libertação de Saab era exigida por Caracas em todas as mesas de diálogo com a oposição e com Washington como um dos requisitos fundamentais para o avanços das negociações. O empresário desembarcou na capital venezuelana às 16h (17h no horário de Brasília) e foi recebido por sua família e pela primeira-dama, Cilia Flores. Logo em seguida, ele foi recepcionado pelo presidente, Nicolás Maduro, no Palácio Miraflores, sede do Executivo venezuelano.

"Esse patriota resistiu durante 1.280 dias, 40 meses, às condições mais adversas, mais dolorosas, de sequestro, prisão imunda, tortura física e psicológica, ameaças, mentiras, e depois de 1.280 dias de sequestro triunfou a verdade e a justiça", disse Maduro.

O presidente ainda agradeceu a delegação opositora nas negociações e disse que seus membros "também foram parte do Acordo de Barbados e dessa troca que foi realizada hoje". Segundo agências internacionais como Reuters e AP, a liberação de Saab fez parte de uma troca de prisioneiros que envolveu a soltura de pessoas que estavam detidas na Venezuela, incluindo cidadãos estadunidenses.

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O presidente da Venezuela confirmou a troca, mas os nomes dos liberados ainda não haviam sido divulgados por Caracas até o fechamento desta matéria. Em comunicado, a Casa Branca também confirmou a liberação de 10 cidadãos estadunidenses que estavam presos na Venezuela, mas também não divulgou uma lista com os nomes.

Em nota, o governo venezuelano celebrou a decisão dos EUA e disse que Saab "é uma vítima da retaliação dos EUA por seus excepcionais esforços internacionais na proteção dos direitos sociais de todos os venezuelanos diante do recrudescimento das medidas coercitivas unilaterais [sanções]".

Ao lado de Maduro, o empresário agradeceu o presidente e outros membros do Executivo e disse que o governo venezuelano é "um governo humano, leal, que não abandona e um governo que, como eu, nunca se rende".

Saab havia sido preso ainda em 2020 no país africano de Cabo Verde, durante uma parada técnica do avião que o transportava. À época, autoridades da Interpol o prenderam com anuência do governo local e, segundo juristas, teriam violado a soberania venezuelana já que o avião possuía bandeira do país e o empresário viajava em missão oficial com credenciais do governo da Venezuela.

Ele passou mais de um ano preso em Cabo Verde quando, em outubro de 2021, foi extraditado aos EUA. Um mês antes, como forma de pressão por sua soltura, Caracas havia incluído Saab na delegação governista que negociava oficialmente com a oposição e o elevou à condição de diplomata.

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Segundo o próprio governo, o empresário naturalizado venezuelano trabalhava para Caracas em missões envolvendo a compra de alimentos, medicamentos e até combustível. Ele era acusado pela Justiça norte-americana de lavagem de dinheiro em uma operação de compra de alimentos no exterior para os Clap (Comitês Locais de Abastecimento e Produção), programa social criado pelo presidente Nicolás Maduro como uma rede de abastecimento alimentar durante a crise. Além disso, Saab foi alvo de sanções por parte dos EUA ainda em 2019 e teve alguns bens congelados no exterior.

Liberação de mercenários

Segundo informaram agências internacionais, a soltura de Saab veio após a liberação de alguns cidadãos estadunidenses que estavam presos na Venezuela. Entre eles estariam dois mercenários que estavam detidos pela participação na tentativa de golpe de Estado contra o presidente Nicolás Maduro ocorrida em maio de 2020.

Os ex-militares dos EUA Airan Berry e Luke Denman foram presos ao tentarem invadir a Venezuela após serem contratados por uma empresa de segurança a mando do ex-deputado Juan Guaidó e aliados. O plano, que ficou conhecido como "Operação Gideão", contou com a assinatura de um contrato entre Guiadó e a empresa de segurança privada Silvercorp e teria como objetivo uma invasão armada de mercenários vindos da Colômbia com intenção de chegar a Caracas e tomar o poder.

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Já a CNN dos EUA fala em 10 estadunidenses libertados como parte do acordo de troca de prisioneiros, incluindo o empresário Leonard Francis, preso em Caracas e acusado pelo envolvimento em um escândalo de suborno em troca de informações privilegiadas por contratos com a Marinha dos EUA.

Em nota, a Casa Branca confirmou a soltura de cidadãos norte-americanos e também da extradição de Leonard Francis. O governo dos EUA ainda disse que está "assegurando que o regime venezuelano cumpra seus compromissos".

"Eles anunciaram uma rota eleitoral, aceita pela oposição, para eleições presidenciais competitivas em 2024. Esse é um passo adiante positivo e hoje eles estão libertando 20 presos políticos, além de cinco que já haviam sido libertados anteriormente", disse. 

Edição: Rebeca Cavalcante