Rio de Janeiro

TRANSFOBIA

Mulheres trans denunciam agressão de seguranças e ambulantes em casa de samba no Rio

Ataque envolvendo mais de 15 homens ocorreu na sexta-feira (19) no Casarão do Firmino, na Lapa

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Zuri foi vítima de transfobia no Casarão do Firmino; designer de modas relata que seguranças do estabelecimento estavam envolvidos no episódio de violência - Foto: Reprodução/Instagram

Na última sexta-feira (19), duas mulheres transexuais foram agredidas após um show de samba no Casarão do Firmino na Lapa, região central do Rio de Janeiro. De acordo com o relato das vítimas, mais de 15 homens, entre seguranças da casa de shows, motorista de aplicativo e ambulantes participaram das agressões físicas e verbais contra as mulheres.

“Fui espancada por um grupo de homens, dentre eles seguranças, ambulantes e motorista do aplicativo @uber_br. Que após me retirar agressivamente do samba iniciaram uma agressão verbal com falas transfóbicas como: ‘pode bater que é tudo homem’, ‘nela (minha irmã sis) eu não bato mas em vocês dois eu meto a porrada’, ‘eu pensava que era mulher, senão já tinha batido antes’, nos jogaram no chão e nos chutaram por todo o corpo, cabeça e rosto’, relata a designer de modas Zuri, uma das agredidas, no Instagram.

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A confusão teria começado quando Zuri foi ignorada após abordar um dos seguranças do Casarão. Ela contou ao Billabord Brasil que parecia que os seguranças estavam incomodados com a presença das mulheres transexuais no local.

“Na saída, fui falar com um deles algo pontual e recebi um olhar de nojo, ele nem me respondeu. Acabei jogando um pouco de cerveja na direção dele. Como consequência, um outro segurança nos jogou para fora do local, de forma muito agressiva. Embora eu tenha jogado a cerveja, não foi uma segurança feminina que veio conversar comigo. Ele já veio me agredindo”, explicou ao portal.


Lua e Zuri sofreram inúmeros hematomas pelo corpo, Zuri teve o nariz quebrado e ambas tiveram seus pertences furtados durante a confusão. Segundo as vítimas, as agressões permaneceram mesmo após as mulheres entrarem num táxi para tentar ir embora do local.

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O caso foi registrado na 5ª Delegacia de Polícia (Mem de Sá). A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro informou que “os envolvidos foram ouvidos e os agentes buscam testemunhas e imagens de câmeras de segurança da região. Diligências estão em andamento para esclarecer todos os fatos”.

O que diz o Casarão do Firmino?

Na última terça-feira (23), o Casarão do Firmino publicou uma nova nota em seu perfil nas redes sociais em que diz que “se sensibiliza com o relato das vítimas, e garante não tolerar qualquer tipo de violência, principalmente atos que possam ser decorrentes de discriminação”. Confira a nota:

O Casarão do Firmino lamenta profundamente os fatos ocorridos na madrugada da última sexta-feira (19). A casa se sensibiliza com o relato das vítimas, e garante não tolerar qualquer tipo de violência, principalmente atos que possam ser decorrentes de discriminação.

Queremos assegurar que somos comprometidos em promover um ambiente seguro e acolhedor no Casarão. A segurança e o bem-estar dos nossos frequentadores são sempre a nossa prioridade.

Estamos à disposição das mulheres envolvidas no caso para acolhimento, apoio e apuração dos fatos, assim como das autoridades competentes para o esclarecimento da lamentável ocorrência.

Desde já, o Casarão do Firmino se compromete a reforçar o treinamento de todos os nossos colaboradores, com o objetivo de garantir o respeito às diversidades - em especial ao público LGBTQIAP+, bem como racial e étnica - à dignidade humana e à liberdade de pensamento e de ideologia política.

Inaugurado em Setembro de 2022, o Casarão do Firmino já foi palco para mais de 200 shows e se tornou um espaço conhecido publicamente por seu ambiente de união e alegria, além de respeito à diversidade de seu público. Isto se reflete na escolha dos artistas que se apresentam na casa e dos profissionais dedicados ao atendimento ao público. O Casarão abraça e seguirá abraçando todos os tipos de públicos, tratando a nossa comunidade de forma isonômica e respeitosa, sem espaço ao racismo, misoginia, LGBTQIAP+fobia e xenofobia em nosso acolhedor ambiente.

O Brasil segue como o país com o maior número de mortes de pessoas trans e travestis no mundo pelo 14° ano consecutivo.Dados do Dossiê Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) apontam que México e Estados Unidos aparecem em segundo e terceiro lugares, respectivamente.

Em 2022, 131 pessoas trans e travestis foram assassinadas no Brasil. Outras 20 tiraram a própria vida em virtude de discriminação e do preconceito.

Edição: Jaqueline Deister