No último sábado (28), dezenas de homens armados invadiram a comunidade rural de Barro Branco, município de Jaqueira, zona da mata sul de Pernambuco, e dispararam tiros contra agricultores que lutam para manter suas terras. A tensão durou até o domingo (29), quando os pistoleiros se retiraram das terras, na presença de policiais. Três pessoas foram baleadas, mas ninguém foi detido.
Um vídeo registrado por um morador mostra cerca de 20 veículos, entre tratores, motocicletas e, principalmente, picapes transportando homens enviados pela Agropecuária Mata Sul S. A. Os moradores do Barro Branco queimaram palhas de bananeira na estrada e se colocaram no caminho dos pistoleiros. Durante a invasão, tiros foram disparados contra os moradores, resultando em três pessoas feridas, entre elas uma estudante da UFPE. O Brasil de Fato Pernambuco denuncia o conflito há pelo menos quatro anos.
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A Polícia Militar foi chamada e acompanhou as horas de tensão no local ao lado dos enviados da Agropecuária Mata Sul, que cortaram cercas e mataram parte da plantação. Há agricultores que denunciam que a PM foi permissiva com a destruição dos pistoleiros. Outras imagens mostram jovens encapuzados e com bandeiras do movimento Liga dos Camponeses Pobres fechando o caminho e gritando palavras de ordem contra os pistoleiros, que só deixaram o local no domingo.
A nossa reportagem entrou em contato com a Secretaria de Defesa Social (SDS), responsável pelas polícias Civil e Militar em Pernambuco, perguntando sobre a atuação das corporações no conflito. Até o momento não fomos respondidos. Também buscamos contato com moradores da comunidade do Barro Branco e com organizações sociais que atuam no local, mas até o momento também não tivemos resposta.
A deputada estadual Dani Portela (Psol), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), declarou apoio aos trabalhadores e cobrou medidas do Governo do Estado. “O Governo de Pernambuco não ativou a comissão que previne os conflitos fundiários e agrários, o que contribui para deixar a situação ainda mais insegura. É responsabilidade do Estado prevenir esses conflitos”, criticou. “São famílias que vêm sendo ameaçadas há muito tempo. Os proprietários de terra precisam lembrar que as capitanias hereditárias acabaram. Nós lutaremos até o fim junto com os trabalhadores”.
O conflito
A região mantém há séculos uma economia baseada no latifúndio com monocultura da cana-de-açúcar. A dificuldade de se modernizar tecnologicamente, somada ao aumento da fiscalização em relação às leis trabalhistas, fez a indústria da cana perder competitividade. A Usina Frei Caneca é uma das tantas que foi fechada sem quitar as dívidas trabalhistas com seus funcionários.
As famílias, que já viviam e trabalhavam naquelas terras há gerações, tinham direito àquelas propriedades como posseiros. Hoje vivem naquelas terras cerca de 1.500 famílias, que somam 5 mil pessoas, divididas em oito comunidades rurais: Barro Branco, Caixa D’água, Engenho Jaqueira, Fervedouro, Guerra, Laranjeira, Várzea Velha e Batateira. Com exceção desta última, que fica dentro do município de Maraial, as demais estão dentro dos limites territoriais de Jaqueira.
Mas, em 2018, a massa falida foi arrendada pela Agropecuária Mata Sul, que passou a criar gado naquelas terras e a reivindicar o uso das áreas onde vivem as comunidades de agricultores. A tensão é permanente nestes seis anos. Algo recorrente é que o gado seja colocado para pastar próximo à fonte de água que abastece a comunidade, resultando na contaminação da água com fezes e urina dos animais.
Mas também há registros de derrubada de parte das plantações dos agricultores, além do lançamento de agrotóxico sobre as comunidades, com uso de helicóptero. Em 2022 circulou nas comunidades uma lista de 27 nomes de lideranças “marcadas para morrer”. O Programa Estadual de Proteção a Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) chegou a instalar câmeras de segurança nas casas de agricultores, mas o equipamento foi roubado.
Em entrevista concedida ao Brasil de Fato Pernambuco em 2022, o agricultor Almir Luiz, morador do Barro Branco, disse não cogitar a opção de sair da sua casa. “A gente vai para onde, pelo amor de Deus? Onde vamos criar nossos filhos? A gente quer permanecer na nossa terra, produzir na nossa terra, alimentar nossas famílias através do que a gente planta aqui. Por isso pedimos reforma agrária”, desabafou em conversa com a reportagem.
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Edição: Vinícius Sobreira