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POLÍTICA

Editorial | O que a liberdade de Lula representa?

Lula falou para milhões que é possível que os trabalhadores deste país construam um Brasil melhor e menos desigual

Brasil de Fato | Recife (PE) |
A mobilização de Lula é a abertura para que possamos barrar os avanços conservadores e autoritários da extrema-direita
A mobilização de Lula é a abertura para que possamos barrar os avanços conservadores e autoritários da extrema-direita - Brasil de Fato

Uma vez disse o poeta: “Livre é o estado daquele que tem liberdade, liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda. ”
No último dia 08 de novembro, o Brasil parou para ver um homem grisalho caminhar da porta da sede da Polícia Federal em Curitiba ao encontro do Acampamento Lula Livre. Poucos metros que durante 580 dias selaram o destino deste homem e de um país inteiro.
Em questão de minutos, em todas as cidades do Brasil, pessoas saíam de suas casas para lotar ruas, praças, avenidas inteiras. É quase como se esse tal de Lula, ao trocar o Livre que era alcunha por estado de liberdade de fato, libertasse junto um grito, um sentimento a muito tempo guardado, uma coisa que ninguém explica, mas que todos entendem.
A soltura de Lula representa uma vitória para o Brasil, pois ela só foi possível após o STF decidir que a prisão em segunda instância é inconstitucional. Mas, pera lá, o que isso quer dizer? Quer dizer que uma pessoa só pode ser presa após todos os recursos da sua defesa terem sido julgados. Mas se a prisão em segunda instância é inconstitucional, quer dizer que a prisão de Lula, e de muitos outros que também foram presos após este precedente, também foram contrárias à constituição? Sim. Então quem rasgou a constituição e por que prenderam Lula?
Esta história é bem conhecida, sabemos o nome dos personagens, o enredo e toda a trama. Sabemos, também, que o atual Ministro da Justiça Sergio Moro, pintado como herói pela mídia comercial, tramou junto com os promotores da Lava Jato uma estratégia para evitar que Lula concorresse à Presidência da República no pleito de 2018. Mas será que a prisão de Lula foi só por culpa de um juiz que sonhava em ser ministro?
Seria ingênuo acreditar nesta hipótese como única causa da prisão de Lula. Devemos atentar para o fato de que os governos Lula e o primeiro governo Dilma tinham uma política econômica e social contrária em diversos aspectos à política implementada pós-impeachment por Temer e, principalmente, agora por Bolsonaro.
Após a crise econômica que eclodiu nos países centrais do capitalismo, a exemplo os Estados Unidos, políticas neoliberais passaram a ser empregados em vários países periféricos como forma de transferir riqueza para estas nações do centro do sistema. Vejamos as políticas de privatizações do atual governo, que vende a preço de banana as principais riquezas do Brasil, como é o caso do Pré-Sal, da Eletrobrás etc., ameaçando a nossa soberania e o desenvolvimento das futuras gerações.
Se ampliarmos ainda mais o nosso olhar, veremos que todos os governos na América Latina que não estão alinhados com os interesses dos EUA sofreram e sofrem tentativas de golpes, bloqueios econômicos, pressão internacional. Os exemplos são vários: Bolívia, Venezuela, Nicarágua, El Salvador, Peru, Brasil.
Em outras palavras, a prisão de Lula era necessária para fazer chegar ao poder um governo alinhado aos interesses norte-americanos; ou alguém tem dúvidas que o presidente que bate continência para a bandeira americana está totalmente subordinado à vontade dos EUA?
Mas, não para por aí, além de vender nossas riquezas, o atual governo tem destruído todos os direitos trabalhistas conquistados com muita luta ao longo de décadas. A extinção do Ministério do Trabalho, o abandono das universidades, dos programas sociais, a falta de moradia, o alto custo de vida, o congelamento do salário mínimo, a manutenção do alto nível de desemprego, são formas que o atual governo impõe aos trabalhadores e trabalhadoras para impedir que estes reajam a total entrega do nosso Brasil.
No seu primeiro discurso após sair da prisão, Lula falou para milhões de brasileiros que é possível que os trabalhadores deste país construam um Brasil melhor e menos desigual. Para tanto é necessário que o povo volte a ser protagonista da sua própria história. Todas as conquistas que a classe trabalhadora conseguiu até hoje foram fruto de sua luta, as mesmas conquistas que hoje estão sendo destruídas com uma velocidade nunca vista antes.
A soltura de Lula representa uma esperança, não pela pessoa Lula, mas pela simbologia do homem que é a síntese do povo brasileiro. A demonstração de que a luta e a resistência podem dar frutos é um primeiro passo na mudança de ânimo da classe trabalhadora, único ator capaz de alterar a correlação de forças. Apenas a luta e a organização dos trabalhadores podem abrir a possibilidade de mudanças nesta conjuntura tão desfavorável.
Se Lula é um agente mobilizador que tem, enquanto principal liderança política do país, a capacidade de mobilizar, esta mobilização é a abertura para que possamos barrar os avanços conservadores e autoritários da extrema-direita. Tu que podes inspirar, que inspires! E deixemos o povo agir no centro do palco.

Edição: Marcos Barbosa