Pernambuco

CONFLITO

Agricultor sofre tentativa de assassinato no Engenho Fervedouro, em Jaqueira (PE)

Moradores apontam que Edeilson Alexandre já havia sofrido ameaças; Polícia está colhendo depoimentos das testemunhas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Os moradores enfrentam um conflito fundiário com a empresa Agropecuária Mata Sul S/A, que desde 2015 reivindica a posse do terreno - Reprodução

No início da noite de quinta (16), o camponês Edeilson Alexandre Fernandes da Silva foi vítima de uma emboscada e foi atingido por sete tiros após sair de moto de sua casa na comunidade do Engenho Fervedouro, no município de Jaqueira, zona da Mata Sul de Pernambuco. O camponês baleado continuou pilotando até chegar em frente a outras casas do Engenho, quando caiu no chão e foi socorrido o hospital do município. Edeilson foi transferido para o Hospital Regional de Palmares, onde realizou cirurgias para a retirada dos projéteis e seu quadro é estável. 

“Edeilson havia sido ameaçado por um dos vaqueiros da empresa e um grupo de seguranças armados há umas duas semanas. Foi triste, porquê a gente sabe que é um menino de 22 dois anos e nunca fez mal a ninguém”, afirmou um dos moradores que mora no local desde pequeno, e completa “depois de ser alvejado, ele ainda conseguiu pilotar 1km até a comunidade e quando chegou aqui caio. Então chegou um carro preto de onde saiu um homem que já vimos trabalhando para a empresa aqui na região, que colocou uma luva e foi ver se ele estava vivo”. O morador, que não quis ser identificado, informou que o rapaz já havia sido ameaçado há algumas semanas, sendo abordado por pessoas desconhecidas no caminho para casa e teve uma arma apontada para ele. 

O crime da última quinta está sendo investigado pelo Delegado João Bosco Alves de Sá, que é titular da Delegacia de Maraial e acumula a Delegacia de São Benedito do Sul. "Já ouvimos a companheira da vitima e de outras duas testemunhas, mas ainda não chegamos a uma resposta conclusiva. Então estamos aguardando o restabelecimento da vítima para que ele possa dizer o que realmente aconteceu. Como a região é rota de fuga de assaltantes, é muito cedo para dizer o que possa ter acontecido", disse o delegado, que informou ter solicitado ao Instituto Médico Legal (IML) de Palmares a realização de exame traumatológico na vítima e que deve ouvir outras testemunhas até o final da semana.

Conflito

O Engenho Fervedouro é ocupado por uma comunidade com cerca de 75 famílias posseiras, entre elas está a família de Edeilson. Os moradores enfrentam um conflito fundiário com a empresa Agropecuária Mata Sul S/A, que desde 2015 reivindica a posse do terreno de aproximadamente 5 mil hectares que compreende as comunidades do Fervedouro, Barro Branco, Rampa, Laranjeiras, Caixa D’Água, Guerra, Várzea Velha, Guerra e outras. A empresa é arrendatária das terras da Usina Frei Caneca, que funcionava no local, foi à falência e deixou 123 processos correndo na Justiça do Trabalho. Grande parte moradores foram funcionários da usina e moram no local desde a época que trabalhavam nela, residindo no local há mais de 60 anos.

Desde 2018, tramita um processo judicial no qual a empresa requer a reintegração de posse do terreno e o despejo dos moradores. Segundo a Assessoria Jurídica da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o que vem acirrando ainda mais o conflito foi o deferimento de uma liminar sem a devida delimitação e a empresa se aproveitou dessa indefinição para avançar todas as posses por causa das indefinições do documento. Apesar da juíza ter deferido recentemente uma perícia, a assessoria entende que será uma definição sobre uma área já arrasada, visto que a empresa já ocupou parte das lavouras dos posseiros. A assessoria peticionou requerendo a designação de um delegado especial para apurar a tentativa de homicídio e para o conflito, o qual não tenha qualquer vínculo com a cidade ou com a empresa para garantir a sua imparcialidade na questão.

Além disso, a assessoria da pastoral aponta a criminalização dos moradores, chegando a ser feito inquérito policial sobre tráfico de drogas e de armas sem qualquer prova que incriminasse os moradores, apenas o depoimento de funcionários da empresa, chegando a ocorrer uma prisão temporária de um posseiro, que foi solto no mesmo dia por falta de provas. “Nós somos trabalhadores rurais, não somos criminosos”, afirmou o morador, que afirmou que várias pessoas da comunidade também vem sendo ameaçadas.

O conflito já foi denunciado à diversos órgãos públicos, como Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Estado, à Procuradoria Geral do Estado (PGE), ao Ministério Público Estadual e Federal, ao Ministério Público do Trabalho (MPT), ao Incra, à Prefeitura e à Câmara de Vereadores e Vereadoras do município e à parlamentares. No entanto, os moradores percebem que o problema vem se agravando com o passar do tempo.

 

Edição: Vanessa Gonzaga