Pernambuco

POVOS INDÍGENAS

Realizada em Pernambuco, 22ª Assembleia Xukuru fortalece a tradição dos povos originários

O evento quebra paradigmas do que é considerado indígena e compartilha conhecimentos ancestrais através da tecnologia

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Povo Xuluru_Renato Santana_Cimi
Tradicional descida do povo Xukuru da Serra do Ororubá, no 20 de maio, data que marca o assassinato do cacique Xikão Xukuru - Renato Santana/Cimi

“Decolonizando mentes e aldeando o planeta”, este foi o mote da 22ª Assembleia Xukuru, um evento que difunde a filosofia, a religiosidade e a tradição da etnia. O evento reuniu as 24 aldeias do povo localizadas na Serra do Ororubá, ao redor de Pesqueira, no agreste pernambucano, entre os dias 17 e 20 de maio. Além dos Xukuru, também estiveram presentes várias representações de movimentos populares e internautas conectados pelas transmissões online

“A gente traz essa reflexão do que é aldear o planeta a partir das vivências que nós temos dentro das aldeias, como é que a gente traz essas perspectivas de mudanças, de proteção à natureza, de vivências sobre a questão da agricultura, por exemplo, como a gente lida com isso. E como que a gente aldeia o planeta levando essa voz e essa visibilidade do povo indígena Xukuru e dos outros povos indígenas também”, destaca Silvinha Xukuru, integrante do Coletivo de Mulheres e do Conselho de Educação do Povo Xukuru do Ororubá, que destaca a importância de fortalecer a filosofia dos povos originários.

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O povo Xukuru possui um coletivo de audiovisual conhecido como Ororubá Filmes, que não só transmite a assembleia desde 2013. mas produz diversos tipos de conteúdo, com destaque para os documentários.

“Pra quebrar também muito do folclórico, do que se imagina do índio atrasado, tendo que viver isolado e sem usar nada da tecnologia. Transmitir [a assembleia] também é negar esse folclore, é dizer que a gente é indígena, mesmo utilizando tudo de mais moderno e a gente tem esse mote de utilizar o que tem de moderno para fortalecer o que tem de ancestral ”, aponta Guila Xukuru, integrante da Ororubá Filmes.

A assembleia acontece todos os anos entre os dias 17 e 20 de maio, em homenagem ao Cacique Xicão, que foi assassinado em 20 de maio de 1998. O crime foi uma tentativa de latifundiários calarem os Xukuru por reivindicarem a demarcação dos territórios, mas a luta do cacique ecoa até hoje nas vozes do seu povo.

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A primeira assembleia foi realizada com o objetivo de cobrar justiça pela morte da liderança.  A cada encontro, os indígenas saem da aldeia Xukuru até o local onde o cacique foi assassinado, passando pelo centro de Pesqueira, uma forma de mostrar que o povo continua lutando.

“Hoje a cidade de Pesqueira para para nos receber, diferente de anos atrás, quando nossos antepassados, nossos ancestrais desciam à cidade, muitas vezes a cidade recebia com medo desses guerreiros que desciam à cidade, não entendiam bem o porquê desse movimento estar acontecendo e hoje a gente vê a cidade de braços abertos, inclusive vindo para a marcha com a gente”, analisa Silvinha.

Os debates e resumos dos dias da assembleia estão disponíveis no canal do Youtube da Ororubá Filmes, bem como diversos conteúdos e documentários produzidos pelos próprios Xukuru.

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Edição: Vanessa Gonzaga