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Bancários conquistam aumento salarial acima da inflação após meses de campanha do sindicato

Proposta dos bancos era de um reajuste sem ganho real; os trabalhadores também conquistaram um aumento nos benefícios

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Em Pernambuco, bancários começaram a se mobilizar desde o ano passado - Divulgação

Como resultado de uma Campanha Nacional Unificada exitosa, os bancários conseguiram um aumento acima da inflação na média anual dos salários, contando com as compensações. Essa foi uma das diversas conquistas acordadas com as instituições financeiras na convenção coletiva dessa quarta (31), e que foram aprovadas pelos trabalhadores na noite dessa quinta-feira (1º). 

Apesar de a reposição salarial estar abaixo do que foi reivindicado, o desfecho da negociação foi satisfatório na avaliação da categoria, diz Fabiano Moura, presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, em entrevista ao Brasil de Fato. Nenhuma conquista de convenções passadas foi retirada e outras demandas centrais foram atendidas. 

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“Nós saímos com o sentimento de que foi proveitoso. Poderia ter sido mais? Sim. Os bancos tinham condições de negociar, mas ficaram intransigentes na mesa de negociação. O que estava em jogo era a queda de braço com a gente, que eles não estavam aceitando de jeito nenhum repassar a inflação para os salários”, considera o sindicalista.

Na pauta entregue pelos bancários à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) - braço sindical da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) -, os trabalhadores pediram de aumento a correção da inflação mais 5% em ganho real sobre o salário, além de acréscimos nos valores de vale-alimentação (VA) e vale-refeição (VR); e adicional na participação dos lucros.

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Como contraproposta, o sindicato patronal inicialmente sugeriu um reajuste abaixo da inflação: 65% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), o que, nos cálculos dos bancários, equivaleria a um aumento de 5,82% e representaria uma perda salarial de 2,9%. Os bancários não aceitaram esses termos.

Mais outra proposta lançada pelos bancos, de aumento de 75,8% da inflação, foi recusada pelos bancários até se chegar ao acordo vigente. A vitória dos trabalhadores inclui: aumento salarial para este ano de 8% (próximo à projeção da categoria para agosto, que foi de 8,88%); aumento no VA e VR de 10% (acima da projeção); adicional de R$ 1 mil no crédito do VA; e 13% de adicional na participação dos lucros. No ano que vem, os salários e demais verbas passarão por outro reajuste, com a correção de inflação mais ganho real de 0,5%. 

Os termos são válidos desde já e seguem até a próxima convenção coletiva, em 31 de agosto de 2023. 

Cláusulas sociais também foram aprovadas: regulamentação do teletrabalho (com ajuda de custo para quem trabalha 100% em home office) e a criação de comissões bipartites para discussão de assédio moral e assédio sexual.

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Em junho, o ex-presidente da Caixa, Pedro Duarte Guimarães, pediu demissão após virem a público denúncias de assédio sexual por funcionárias do banco. “Muitas bancárias sofrem com isso, em todos os estados. A gente propôs a comissão, com proteção para a pessoa que denunciou, para que não seja retaliada dentro do ambiente de trabalho. Queremos um canal que funcione de fato - o que tem hoje não funciona - e que possa ser acompanhado pelo sindicato”, comenta Fabiano.

Sobre o assédio moral, o presidente relata que também é uma realidade comum para a categoria. “Sofremos e adoecemos muito por isso. Somos segundo lugar no Brasil de afastamento por doença ocupacional e isso tudo devido às grandes metas inatingíveis e abusivas de venda de produto, de lucratividade. Reivindicamos discutir isso com o banco para encontrar uma saída.”

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A campanha

A conquista dos bancários sucede uma mobilização unificada que envolveu paralisações, reuniões nos locais de trabalho e atos públicos. A campanha nacional teve início oficialmente em junho – a pauta com as reivindicações foi entregue aos banqueiros no dia 22 daquele mês. Porém, antes mesmo disso, a categoria já vinha se organizando na preparação para a tarefa, realizando atividades e outras campanhas.

“Começamos no ano passado, já preparando as armas para poder enfrentar tudo isso. Fizemos uma grande caravana [em Pernambuco] que veio do Sertão até a Região Metropolitana do Recife. Visitamos todas as grandes cidades do interior”, lembra Fabiano Moura. 

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Fabiano Moura, presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, avalia que resultado da campanha foi satisfatório / Divulgação

Em dezembro, o sindicato de Pernambuco fez uma campanha de mídia externa que gerou repercussão e incomodou a Fenaban. Na ação, os letreiros “Banqueiros inimigos nº 1 do Brasil - Santander, Bradesco e Itaú” estamparam outdoors e outbus por cerca de 15 dias. O suficiente para os bancos pedirem uma audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho e falarem à imprensa contra a ação, alegando que o sindicato estaria colocando em risco o emprego dos trabalhadores. A declaração foi lida como uma ameaça pelos bancários.

Fabiano defende defende que a campanha abriu um diálogo com a sociedade para expor que a concentração de riqueza no Brasil e no mundo é o que gera miséria e fome. "Os bancos durante a pandemia não tiveram perdas, aumentaram sua margem de lucro. Os cinco maiores no País lucraram mais de R$ 100 bilhões no ano passado. Tem banco que arrecada duas folhas e meia de salário só com lucros de tarifas bancárias. A gente enxerga isso como uma situação muito ruim. Não existe regulamentação do sistema financeiro adequada no Brasil", conclui.

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Edição: Vanessa Gonzaga