Pernambuco

ENTREVISTA

Pernambuco deve realizar Fórum de Cultura das Periferias em março, afirma Silvério Pessoa

O novo Secretário de Cultura do estado falou sobre descentralizar serviços para alcançar outras regiões do Pernambuco

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Secretário afirma que prioridade é descentralizar ações e capacitar agentes culturais - Foto: Divulgação

Após 16 anos de gestões do PSB, Pernambuco inicia o ciclo do governo Raquel Lyra (PSDB) com o músico pernambucano Silvério Pessoa, no cargo de Secretário de Cultura do estado. Com pouco mais de um mês da gestão tucana, o Brasil de Fato Pernambuco entrevistou Silvério para entender quais são as expectativas do governo para a área, os planos para maior inserção da cultura popular na agenda do estado e o que se pretende para a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Assista:

Brasil de Fato: Você assumiu há pouco tempo a Secretaria de Cultura de Pernambuco. Quais são as expectativas pra esse novo período?

Silvério Pessoa: Falar na expectativa com vinte e seis dias de gestão é bem desafiador. As expectativas são as melhores possíveis, de muita esperança e reconstrução. Nós tínhamos um campo cultural completamente diluído, desarticulado e desconstruído pela gestão anterior nacional. Agora com o novo presidente volta o Ministério da Cultura com Margareth Menezes, nordestina e baiana; voltam também os incentivos e principalmente a cultura popular, que eu acho que é o eixo da cultura brasileira. As expectativas são de otimismo e de fazer diferente.

Aqui no nosso caso de Pernambuco eu estou na Secretaria de Cultura do Estado e nós temos também a FUNDARPE, que é a Fundação de Cultura que nomeou a doutora e arquiteta Renata Borba, voltada com um olhar sensível. Além da questão do patrimônio material e imaterial e de dar todo o suporte à classe artística, nós temos uma preocupação de cuidar do patrimônio público, os museus, as salas de cinema. Então, passando essa fase eu particularmente começo a realizar as ações que pretendo e que nós estamos pensando e criando. Desburocratizar os acessos e principalmente ouvir essas vozes, ampliar essas vozes desse eixo tão importante que é a cultura popular. A expectativa é essa de acolhimento, escuta e realização.

Leia: Hemope inicia campanha de doação de sangue para o Carnaval 2023

 BdF PE: Como você falou, a gestão ainda é recente, mas há uma intencionalidade de garantir representação cultural e inclusão para grupos sofrem com processos de marginalização histórica? Como é o caso de comunidades indígenas, populações negras e minorias religiosas.

Silvério Pessoa: Desejo realizar em março o primeiro Fórum de Cultura das Periferias do estado de Pernambuco, pensando exatamente em revelar, em discutir e conversar com uma cultura popular que eu vejo como contemporânea, que não é contemplada oficialmente dentro desse conceito e dessa classificação de cultura popular. Obviamente que nós temos ancestralidades e matrizes como coco, maracatu rural, maracatu de baque virado, os caboclinhos, que inclusive tem esses traços de matrizes indígenas, dos povos indígenas.

Não é todo artista popular que tem acesso e que sabe fazer uma escrita nos editais do Funcultura. Como atender de forma criativa? Como é que a gente pode, através de processos de formação, fazer com que nós artistas, que eu me vejo também dentro dessa categoria, estejamos inseridos dentro de uma produção sem depender única e exclusivamente de dinheiro público? Então, obviamente quando eu falo cultura das periferias, dos subúrbios, estou transcendendo essa classificação oficial e dando voz, acolhimento e parceria com todos os povos e com todas as outras denominações culturais que eu sei que o estado tem, desde a pontinha lá do Pajeú de Petrolina até a Zona da Mata Norte e a Zona da Mata Sul.

O que eu acho que a gente precisa entender que uma Secretaria de Cultura do estado não trabalha apenas pro município, apenas para capital. Aqui também tem um movimento muito grande, mas ela trabalha pra essas zonas de desenvolvimento. Ou seja, vozes que ainda não tiveram um microfone para serem ampliadas, amplificadas. Então esse é meu desejo central dentro desse novo tempo, de uma nova gestão. 

Leia: Olinda e Recife homenageiam grandes nomes da cultura pernambucana na Carnaval 2023

BdF PE: Pernambuco passou 16 anos sob a gestão do PSB e agora você assume a Secretaria Estadual de Cultura em uma nova gestão, com Raquel Lyra do (PSDB). Qual vai ser o diferencial da sua gestão para o que estava sendo feito anteriormente?

Silvério Pessoa: Eu estou aqui em uma posição de uma grande experiência e de um grande desejo de prestar um serviço que eu não sei quanto tempo vai ser, qual vai ser o meu ciclo. Prestar um serviço pra minha classe artística, eu não estou defendendo aqui nenhuma bandeira e nenhum partido político, eu estou defendendo a classe artística. Então, eu acho que esse já é o grande diferencial da governadora ter me convidado.

O que eu posso fazer de diferente é tudo isso que eu comentei anteriormente, cada vez mais potencializar a classe artística, cada vez mais potencializar os conselhos de cultura, do patrimônio, do audiovisual, da política pública, em que eu tive um encontro maravilhoso. Cada vez mais colocar um pedestal com microfone pra ampliar vozes que precisam ser amplificadas. Se a gestão anterior fez isso ou não, eu não vou me preocupar, não vou fazer comparação, não vou fazer relatório. O que eu estou querendo é daqui pra frente e principalmente através de ações que eu sou, o que eu posso fazer de diferente é cada vez mais potencializar a cultura popular. Eu tenho muito desejo que eu possa potencializar a cultura popular de forma que ela possa ser protagonista da criatividade dela, eu acho que o estado precisa garantir.

Leia: Para especialistas, racismo religioso dificulta efetivação de lei sobre cultura afro em escolas

BdF PE: Como se dará a relação entre a Secretaria de Cultura e a Fundarpe? O que os produtores e trabalhadores de cultura podem esperar de fomentos no estado?

Silvério Pessoa: Eu acredito que a Fundarpe, o que nós andamos comentando dos nossos encontros, é que realizar cultura em Pernambuco não deve ser apenas balcão de produção de show e de cachê. Eu acredito que o gerenciamento do campo cultural não seja apenas cuidar de festa pública, de festa sazonal e cachê artístico. É para cuidar sim, temos uma curadoria, temos um pensamento e um zelo e é uma agência de fomento sim. Existem leis pra isso, Margareth Menezes está aí no Ministério da Cultura retomando vários projetos engavetados de fomentação à cultura no Brasil, isso é uma grande reconstituição do campo cultural.

Mas nós pensamos que essas instituições culturais de Pernambuco podem ir mais além. Por exemplo, transformar os artistas em agentes criativos, dentro de uma economia criativa que gere negócios, protagonismo e autonomia. Muni-los dessa capacitação. E isso é uma atitude pedagógica cultural, não é apenas uma atitude. O estado não é um grande produtor de festival. Então assim, aos poucos nós vamos acomodando esses espaços e a Fundarpe cuidaria de patrimônio.

Eu quero pegar estrada, eu quero realizar os meus sonhos que é a Caravana Cultural peregrinando pela Zona da Mata do Agreste, do Sertão, vendo os pontos de cultura e potencializando esses pontos, ocupando os espaços e os equipamentos que podemos transformar em descentralização da escuta. Um cavalo-marinho ter que se deslocar para cá para conversar com o secretário, conversar com a presidente da Fundarpe. O pessoal de São José do Egito, pegar oito horas de estrada para vir conversar, pra vim apresentar um projeto. Por que isso não pode ser descentralizado? Acho que são ações que transcendem apenas a curadoria e a monitoramento de eventos públicos e de festas sazonais.

BdF PE: Você tem um longo histórico na cultura popular como artista. Como é você enxerga a importância da cultura para Pernambuco? 

Silvério Pessoa: Um povo cada vez mais forte, emancipado, crítico, participante, protagonista, autônomo, é um povo que tem sua cultura valorizada. E quando eu digo um povo, eu digo dos povos originários, da nossa ancestralidade africana, dos povos indígenas. A gente viu a situação dos Yanomami que terminaram sendo sacrificados. Então, está óbvio que um povo forte é um povo que tem sua cultura potencializada e valorizada. É isso que eu pretendo junto com minha equipe. É isso que eu pretendo deixar de legado nessa temporada.

Leia também: Trilhas do Nordeste: Guardiões dos Baobás e documentário do BdF são destaques na edição

Edição: Vanessa Gonzaga