Pernambuco

SÃO JOÃO

Em tempos de "forró de plástico", artista Fabrizzio Formiga defende a tradição forrozeira raiz

Integrante do Trio Rabissaca, Fabrizzio fala dos desafios que os artistas locais e a cultura popular enfrentam

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Fabrizzio (ao centro) e o Trio Rabissaca - Governo da Paraíba

Ritmo que embala as festas do mês de junho, o forró ganha destaque no ciclo junino. Em um contexto de camarotização das festas públicas e do crescimento da participação da música sertaneja nas festas que eram uma vitrine do forró, surge a preocupação de artistas locais em manter a tradição junina ao som dos tradicionais trios pé de serra. 

Integrante do Trio Rabissaca, de João Pessoa, o cantor Fabrizzio Formiga é um dos que defende a tradição. Em entrevista ao programa Trilhas do Nordeste, ele fala da sua trajetória como artista e da necessidade de preservar e impulsionar esse ritmo tão autêntico. Confira: 

Brasil de Fato Pernambuco: Fabrizzio, como você entrou nesse mundo da música? Quais são as suas influências musicais e teus projetos, já que você toca em vários projetos musicais.

Fabrizzio Formiga: Então, eu tô com o forró, já tem uns quase 20 anos já, muito influenciado pelo teatro, sobretudo pelo teatro de rua. E aí nesse caminho surgiu a oportunidade, o desejo, a vontade de se montar um projeto musical que hoje se desmembrou em vários projetos musicais e aí é não sei precisar o ano que isso aconteceu, mas a gente recebeu um convite para montar um trabalho na numa comunidade aqui na cidade de João Pessoa, iniciou na comunidade Porto Capim, era exatamente onde a cidade foi descoberta, ali na entrada do rio, no centro histórico. 

E aí de lá para cá, a gente já fez bastante coisa, já gravou discos, clipes e montou trios, bandas. Eu posso dizer que estou bem atuante no gênero forró que é o gênero pelo coração apaixonado desde que eu me entendo por gente. E aí segui um caminho muito legal, de muita construção, muita atuação, sobretudo nas matrizes do forró. 

BdF PE: Os estados do Nordeste se mobilizam bastante para promover as festividades e eu queria saber: como é o cenário desse estímulo cultural aos artistas locais na Paraíba?

Fabrizzio Formiga: É preciso primeiro entender o que são esses artistas locais, né? Se são locais e pontuais ou se são sempre locais. Eu gosto de ir mais a fundo nessa questão e tratando aqui do nosso Estado existe toda uma preparação para esse ciclo junino tanto prévias, tanto durante, como depois também e hoje eu já consigo enxergar, sendo bem honesto, uma continuidade disso no decorrer do ano.

Claro que sazonalmente acontece o pico, né? Que aquele trimestre ali de Maio, Junho e Julho e depois isso dá uma arrefecida, mas como eu sou uma pessoa que atua na área, eu vejo que sempre existem ações no sentido de continuar, claro que numa escala diferente. É preciso as pessoas se reinventarem enquanto artistas para poder estarem presentes nesse cenário.

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BdF PE: Fabrício, como é que você enxerga a importância dessa tradição junina para o Nordeste?

Essa pergunta é maravilhosa. Essa necessidade dessa manutenção da tradição que é ancestral, antes de qualquer coisa, ela deveria se dar em todas as esquinas do Nordeste e a gente vê muita gente que fala disso, que fala dessa necessidade de se manter as tradições e eu não estou falando de mercado, eu estou falando das tradições, das relações, das pessoas. do nordeste em relação a tudo isso que acontece.

Quando você fala da construção da culinária, da vestimenta, da preparação, da coreografia da música, do show, tudo isso vai para um vai para o tempo maior do que propriamente o período junino e aqui no Nordeste muito mais, claro, a gente tem isso na nossa raiz desde que a gente nasce. Eu trabalho muito na periferia e vejo essa coisa acontecer de uma maneira muito muito verdadeira. Eu estava em uma apresentação aqui no bairro onde se brincavam os folguedos populares antigos, do cavalo marinho, e dos cocos e lá a gente fez uma saudação dos mestres que já lutam com a gente do bairro. 

O que estava sendo apresentado lá era um conjunto de quadrilha que tem aquela pegada de bairro mesmo, de se juntar e de cortar o retalho para costurar na calça e improvisa. Fiquei muito encantado com aquilo, porque ainda temos exemplos aqui na nossa cara de que as tradições precisam ser mantidas e eu vejo muito isso acontecer, embora exista também a coisa dos grandes shows e que acontece também Nordeste afora. 

Eu acredito que manter essa coisa de bairro para mim é um grande desafio, porque isso é uma missão enquanto necessidade de você perpetuar essa esse saberes e acho que embora seja uma coisa difícil de se fazer, o apoio é muito pouco, mas as pessoas se unem e fazem, fica todo mundo junto fazendo e a gente vê acontecer.


Quadrilhas durante ensaios para o São João da Capital / Secom JP - Daniel Silva

BdF PE: Para a gente fechar nossa conversa, qual é a importância do São João para você?

Fabrizzio Formiga:  Eu fui a criança que brinquei quadrilha costurando o retalho da calça com a minha irmã e com a minha mãe fazendo calça para mim. Eu escutei muito Jackson do Pandeiro na minha infância, muito Antônio Barros, muito Luiz Gonzaga, porque os meus pais são daqueles nordestinos que foram pro Sul e toda essa coisa do êxodo que aconteceu muito no Brasil e acontece até hoje, mas nunca deixaram de me passar de falar de onde eles eram.

Eu nasci no Rio de Janeiro e vim pra cá muito pequeno e estou aqui até hoje. Eu só fui parido no Rio de Janeiro e isso para mim tá no meu sangue, eu já militei em outros movimentos musicais, muitos anos atrás e o forró, os saberes tradicionais nordestinos, eles estão na minha essência e eu faço isso com muito prazer, com muito gosto e com muito amor. Eu vejo meus amigos e amigas e companheiros de luta que fazem também com muito amor, porque isso é a nossa identidade.

 Eu não sei exatamente explicar, mas é o que eu sinto, eu sinto uma pulsação muito maior ao lidar com essas linguagens, com essa nordestinidade, isso para mim é muito forte e me deixa motivado a fazer tudo que eu faça. Não é fácil não, mas que a gente faz com muito amor a gente faz.

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Edição: Vanessa Gonzaga