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Servidores de universidades federais de Pernambuco paralisam atividades por reajuste salarial

Trabalhadores pedem reajuste de 19,99%, referente à correção inflacionária dos 3 anos do Governo Bolsonaro

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Servidores federais não recebem aumento há cinco anos - Reprodução

Sem receber aumento salarial há cinco anos, os professores e servidores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, responderam à convocação nacional e paralisaram as atividades nesta quarta-feira (23) reivindicando um reajuste de 19,99%. A porcentagem corresponde à correção inflacionária referente aos últimos três anos do Governo Bolsonaro. Os trabalhadores também se reuniram em assembleia para deliberar se aderem à greve convocada nacionalmente. Se não houver reajuste neste ano, os servidores entrarão em 2023 com 30% de perda relativa à inflação, aponta a Seção Sindical dos Docentes da Univasf (SindUnivasf).

Segundo o presidente da entidade, Vanderlei Souza, a última reposição de perda inflacionária aconteceu em 2015, ainda no governo da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). “Foi pactuada uma correção de perdas até 2015, que foi parcelada até 2017. Por isso, na prática, estamos há cinco anos sem reposição”, explica. 

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A demanda é feita em caráter emergencial, considerando a escalada inflacionária que o País vem vivendo. Além disso, por se tratar de ano eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) só tem até o dia 4 para aprovar uma reposição salarial. A paralisação faz parte da Jornada de Lutas dos Servidores Federais, mobilização nacional com todas as categorias do serviço público da administração direta e indireta e fundacional

Parte dos profissionais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) também paralisaram nesta quarta. A Sintufepe UFPE, entidade que representa os servidores técnico-administrativos suspendeu as atividades e realizou assembleia durante a manhã, enquanto a Associação dos Docentes da UFPE (Adufepe) não aderiu ao movimento.

Já pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a Associação dos Docentes da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Aduferpe) e a Sintupe UFRPE marcaram assembleia geral para esta quarta-feira; a primeira aconteveu pela manhã, e a segunda durante a tarde.

Educação em segundo plano

Apesar de todos os trabalhadores estarem na mesma situação, Bolsonaro vem falando em conceder aumento para policiais federais e policiais rodoviários federais, sugerindo ser este o destino do R$ 1,7 bilhão em reajuste a servidores aprovado no Orçamento de 2022. “Nós entendemos que, se existe brecha para correção de salários, que seja para todos os servidores”, defendeu Vanderlei Souza. 

Para o sindicalista, a não concessão de reajuste aos profissionais das universidades federais é mais uma evidência de que a educação superior não é uma prioridade do atual Governo Federal. “Os ministros escolhidos foram pessoas que combatem a universidade, que acusam os servidores de serem preguiçosos, parasitas. As universidades vêm sofrendo cortes orçamentários, mas a gente vem descobrindo que existe um orçamento secreto, sem a devida transparência, a serviço de comprar apoio de certos segmentos com recurso do FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação]”, apontou.

Nessa terça-feira (22), veio a público um áudio obtido pelo jornal Folha de S. Paulo em que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, revela a existência de um gabinete paralelo de liberação de verbas do Ministério da Educação (MEC). Na gravação, o ministro diz que o Governo prioriza pedidos de prefeitos escolhidos pelos pastores evangélicos Gilmar Santos e Arilton Moura, que não têm qualquer ligação com o governo. A atuação dos lobistas remontaria a pelo menos desde janeiro de 2021. 

Interventores

O presidente da SindUnivasf ainda afirmou que o Governo Federal demonstra desrespeito à autonomia universitária ao nomear "reitores interventores" em universidades federais, sendo uma delas a do Vale do São Francisco. "Há casos de pessoas fora da lista tríplice, como o da Univasf. É um reitor que não nos representa, que não concorreu à eleição, que a comunidade não conhecia e que foi encontrado por pastores influentes junto ao MEC. Como havia judicialização da lista tríplice, o governo pôde nomear o interventor. Podia nomear qualquer servidor com doutorado, mas encontraram esse professor pouco conhecido, o César Fagundes".

O processo de eleição da reitoria da Univasf, que aconteceu em 2019, foi suspenso na Justiça a pedido de uma das chapas que levantou a possibilidade de inegibilidade de um dos candidatos. Em 2020, quando terminou o mandato do ex-reitor Julianeli Tolentino, o reitor pro tempore Paulo César Fagundes Neves foi indicado pelo então Ministro da Educação Abraham Weintraub.


O movimento estudantil realizou um protesto em frente à reitoria no mês de janeiro para pedir esclarecimentos sobre os gastos em viagens e cortes nas diretorias / Glícia Lopes/ DCE Univasf

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Em fevereiro deste ano, os reitores de seis instituições, nomeados pelo presidente, romperam com a tradicional Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e fundaram a Associação dos Reitores das Universidades do Brasil (Afebras).

Além da Univasf, compõem a Afebras as universidades federais Rural do Semiarido (Ufersa), do Ceará (UFC), de Itajubá (Unifei), dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e Rural da Amazônia (Ufra).

No momento, a Univasf vive uma quebra de braço entre reitoria e Conselho Universitário sobre o assunto. O Conselho decidiu que a instituição deveria se afastar da Afebras, não utilizar recursos do seu orçamento na associação, se revincular à Andifes. O reitor teria vetado a decisão do Conselho, que ainda tem o poder de derrubar o veto nos próximos dias.

 

Edição: Vanessa Gonzaga