Pernambuco

COLUNA DOS CLUBES

Coluna Coral | Amor de Irmão

"Imagino seu Mathias entoando o hino do Mais Querido nas arquibancadas do Arruda, um dos seus habitats preferidos"

Brasil de Fato | Recife (PE) |
"Gosto de pensar no futebol como um lugar de referência e memórias vividas coletivamente"
"Gosto de pensar no futebol como um lugar de referência e memórias vividas coletivamente" - Coral Net

Seu Mathias morreu. Ou... Mathias Antunes Guimarães, torcedor do Santa Cruz, que nasceu antes mesmo da Fundação do Clube faleceu esta semana. Seu Mathias nasceu dia 03 de Janeiro de 1914, exatamente um mês antes do time coral existir. 

Morador da cidade de Paulista (RMR), seu Mathias é ex servidor público e chamava o Santa carinhosamente de "irmão". Mas não é apenas pela idade que o centenário coral é tão especial. " Náutico e Sport não queriam morenos feito eu. E o Santa Cruz aceitava gente de todo jeito. Aí me apaixonei. Eu escolhi o Santa Cruz por causa disso". Essa fala reflete o peso de quem já vivenciou muitas histórias. Mas de todas essas a mais indissociável durante seus 107 anos de vida foi o do seu amor pelo seu clube do coração. 


"O Santa Cruz quando joga é uma alegria pra mim. E se apanhar também. Ninguém nasceu só para ganhar não". A representatividade buscada por seu Mathias veio somente erguida pelas cores preto, branco e encarnado. A imagem da inclusão. A imagem de um verdadeiro clube do povo. 

Mas o que me deixou mais triste foi a forma como o clube noticiou seu falecimento. Apenas um dia depois. E somente uma notinha de quatro linhas no Twitter. E nenhuma outra rede social, nem nada. Nem um vídeo. Nem uma foto. Nada. Já falei outras vezes e volto a repetir: Um clube que não (re)conhece sua história, é um clube que está fadado ao fracasso. 

Imagino seu Mathias entoando o hino do Mais Querido nas arquibancadas do Arruda, certamente um dos seus habitats preferidos. 
Gosto de pensar no futebol como um lugar de referência e memórias vividas coletivamente. E para que isso aconteça em sua maior potência é imprescindível que a pluralidade se faça presente e que haja espaço para todos e nesse sentido, o Santa Cruz é referência. O Santa de Lacraia, de Pantera, de cão (o primeiro Roupeiro do Clube), de Bacalhau de Garanhuns, de Naná da kombi, de Catatau e de tantos outros. 


Descanse em paz, seu Mathias. Por aqui seguimos resistindo e lutando para que outros torcedores como o Sr continuem buscando seu espaço. Essa é uma singela e mínima homenagem que posso lhe fazer em sua memória.

*Thammy é torcedora do Santa Cruz

Edição: Vanessa Gonzaga